quarta-feira, 18 de maio de 2011

O 13 de Moema

Paulo, inquilino do Credicard Hall de Moema


Em certa sexta-feira 13, data conhecida como “o dia do azar”, esse escriba resolveu fazer uma de suas coisas prediletas: ouvir pessoas. E a ordem das coisas pareceu se inverter. Viveu uma tarde de sorte, pois ouviu de “um cara 13” – daqueles que se botam a conversar pelos cotovelos consigo mesmos – várias histórias que fogem ao lugar comum do cotidiano. Num diálogo monólogo (que perdoem a incoerência, mas só ele falou), o escriba, que agora era ouvinte, descobriu um descendente de monarca hindu, que considera a Música Popular Brasileira (MPB) um estilo de macumba e é crítico ferrenho dos meios de comunicação. Passemos aos fatos.
Na cidade de São Paulo, pessoas são invisíveis. O que vale é o tempo, pois ele sim enriquece. E que se dane a comunicação, que um dia foi vista por Sócrates como a maior fonte de conhecimento do ser humano. Os diálogos monólogos, considerados por muitos como loucura, talvez sejam a válvula de escape àqueles “românticos socráticos”, que se veem cada vez mais a sós. Ao menos para Paulo, essa foi uma saída. Ainda bem que ele não se preocupa em ser visto como “13”.
A maioria das pessoas que passam em frente ao antigo Credicard Hall de Moema, à Alameda dos Jamaris, quase sempre podem avistar um homem de meia idade, em suas conversas consigo mesmo, com uma folha nas mãos, chapéu na cabeça e alguns pertences no chão. Mas poucos saberão que ali, num lugar coberto de folhas de árvores e atrás de uma banca de jornal, mora uma pessoa que se divide entre devaneios mentais e visões de mundo complexas, características que o tornam diferenciado.
Um pensamento me levou a ser diferente dos que tornam a história de Paulo indiferente: “Descobre, desvenda. Há sempre mais por trás. Que não te baste nunca uma aparência do real”. Fui descobrir o que havia por trás da realidade de mais um cidadão paulistano considerado louco, mendigo, morador de rua e que, certamente, não acrescenta nada para o espírito desenvolvimentista dos habitantes da maior metrópole da América Latina.  
O primeiro fato que chamou a atenção foi o conteúdo de inúmeras folhas de propriedade do “cara 13”. Lá se encontram diversas críticas aos veículos de comunicação, que segundo Paulo, “não obedecem aos preceitos mínimos da democracia”. Após uma longa definição do que seria, para ele, um sistema democrático, aconselhou: - Leia rapaz! Isso tudo eu escrevo porque quero mostrar, ao mundo, a verdade sobre esses jornais. Tudo o que é escrito, apresentado, lançado ao ar, precisa passar por um filtro. Os caras escrevem o que bem entendem. Mas, os espertos leem, refletem e, depois sim, formulam suas opiniões.
E era exatamente isso o que Paulo dizia em seus escritos. Com um lápis, formula suas próprias teorias sobre ‘Rede Globo’, ‘O Estado de São Paulo’ e, até, ‘The New York Times’. Sim, ele faz críticas aos jornais internacionais, pois conhece, e muito bem, o idioma anglo saxônico. Para provar, chama seu ouvinte para a banca, que está logo à frente de sua “casa”, escolhe um jornal inglês, lê a manchete, explica o quer dizer e ainda traduz.
Questionado sobre como aprendeu o idioma inglês, ele, mais uma vez, surpreende: - Eu aprendi com o meu pai. Ele me deixou uma herança. Estou aguardando a justiça brasileira, que é lenta, me pagar.
O pai, segundo Paulo, foi monarca hindu. Para sair da monotonia de ter súditos sempre aos pés, teria sido produtor de bandas famosas, como a dos Beatles.
Voltando às críticas aos meios de comunicação, Paulo usa a criatividade para “mostrar ao mundo a verdade sobre os jornais”. Por meio de câmeras instaladas em seu quintal – no muro do Credicard Hall – que teriam sido instaladas ali pela rede Bandeirantes, atendendo ao seu pedido, consegue veicular ao mundo as suas teorias. Nesse dia, acabara de fazer uma tese, e estava apontando para as câmeras. Segundo ele, “os expectadores estão esperando. Você não está vendo que as câmeras estão filmando?”.
Mas é com o mesmo lápis e o mesmo tipo de folha de papel que Paulo tira parte de seu sustento. Em uma espécie de cavalete, exibe desenhos autorais, geralmente rostos. Quem lhe enxerga no ritmo alucinante de uma capital movida pelo capital, descobre um talentoso desenhista. Suas obras custam, em média, R$ 10. - É só para o meu sustento. Com a grana, vou até a esquina, compro uma quentinha e sobrevivo, até o dia em que a justiça resolver pagar a minha herança.
Durante os 30 minutos passados naquela calçada, passaram dezenas de pessoas alucinadas. Alguns simplesmente passaram, outros acharam estranho esse escriba estar ali. Em certo momento, uma pessoa interrompeu o diálogo monólogo, pois veio buscar seu desenho. Já estava pronto.
O tempo passou, o Credicard Hall encerrou suas atividades no local e as perguntas que sobram é: Ele conseguiu receber sua herança? Ainda mora lá? Continua veiculando suas teses pelas câmeras da Bandeirantes? Seus desenhos obedeceram à lógica do mercado financeiro, ou seja, sofreram aumento de preço?
Quem sabe esse escriba se livre, em algum momento, da correria pelo capital, e consiga passar mais 30 minutos dialogando com o “13 de Moema”.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Distância que maltrata


Quanta solidão amargará os meus dias? É possível medicá-la com pequenas doses de voz e imagens? Por que deixei, a alguns quilômetros de saudade, aqueles que amo? A minha vida se tornou um poço quase que completo de tristeza? O quanto ainda cabe, nele, dessa solidão? Ele está para transbordar? Aguenta mais um pouco? O quê acontece dentro desse órgão chamado coração, que altera o caminho de um objetivo? A parcela subjetiva vence a objetividade? A rotina que fez isso? Meu corpo passou a transpirar, em forma de lágrimas salgadas, o choro calado do meu peito? O que se passa dentro da minha cabeça? A memória me maltrata? Será que quero voltar à alegria? O julgamento que fazia dela estava errado? O quanto ainda seria necessário de espaço para expressar a angústia que sinto?
Essas palavras, que parecem não ter ligação, sem destino reto, só fazem sentido dentro de mim.
Um dia vou ser jornalista, mas hoje minh'alma clama por felicidade!